" Cada homem ou mulher nascidos da terra deste feudo,
terá suas raízes fincadas no chão e dele surgirá a força para suas vidas,
pois
a terra é forte e divina.
Nela eles crescerão e morrerão.
Uma vez plantadas, as
raízes nunca abandonam
a terra que as concebeu."
(...)
Tinha oito anos quando partiu de Riacho das Almas, e era essa a idade da criança refletida no espelho. Uma menina de oito anos, feliz, que adorava correr pelos campos de girassóis nas tardes quentes de verão e sentir o vento fresco lhe acariciar o rosto. Fingia que era um pássaro a voar, e que ninguém lhe tiraria essa liberdade.
(...)
Casar-se-ia em aproximadamente um mês e meio, no meio da primavera, com
o filho de um nobre digno e respeitado no reino. Seu noivo chamava-se Henrique
de Castro.
Voltara então para sua cidade provinciana
depois de dez anos, e passaria seus últimos dias de senhorita na companhia de
seus pais e irmãos. Estava feliz com o que o futuro lhe reservara, mas desde
que chegara uma melancolia a atingira de tal forma que quando pensava em voltar
ao reino sentia um aperto no coração. Sentia que, ainda, de alguma forma, seu
lugar era ali, em Riacho das Almas, correndo de pés descalços pelos campos de
seus sonhos.
Havia algo nele que ainda não compreendia de todo. Partes
insólitas de seu ser que lhe eram misteriosas e indecifráveis e que ele não se
arriscava pensar a respeito mais do que meros segundos, pois sabia que havia
respostas que precisavam ficar na escuridão ou elas trariam a loucura. Às vezes
sentia que estava à beira de cair nesse precipício. Que se olhasse muito tempo
para ele, aquilo lhe dragaria e ele finalmente desapareceria, sem mais
reflexos.
Esse era o rapaz que caminhava entre a multidão de pessoas
meramente ordinárias que mediam cada um de seus passos. Alguém que já foi um
dia algo parecido com um ser humano comum e hoje é um mero eco do que um dia já
fora. Uma sombra de um passado mais distante do que aquele que a memória lhe
permite lembrar. Apenas uma coisa ele sabia, não era ordinário como todas
aquelas pessoas. Isso ele não era.
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